O veganismo e a ética
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Do ponto de vista ético, não há entendimento, pelo menos de caráter amplo e coletivo, que condene o consumo de carne animal pelos seres humanos (à exceção, por óbvio, de espécies ameaçadas de extinção).
De fato, tanto pela abordagem criacionista, quanto pela evolucionista, a cadeia alimentar ocupa seu papel na natureza desde sempre.
A multiplicação dos peixes, inclusive, é uma passagem bíblica conhecida que simboliza a naturalidade, em um contexto de fé e religiosidade, com que a a cadeia alimentar é tratada, sem nenhum questionamento moral ou ético.
No entanto, na esfera individual e de alguns grupos organizados, vem sendo consolidado um sentimento contrário ao abate de animais para consumo humano.
Existiria uma relação direta entre esse tipo de sentimento e a popularização do veganismo como hábito alimentar?
Provavelmente sim. Embora o veganismo, em seu significado mais amplo, extrapole o conjunto de comportamentos relacionados aos hábitos alimentares, o questionamento ético contrário ao sofrimento animal, parece ser um dos principais motivos que levam pessoas a aderir à filosofia vegana.
Segundo o IBGE, somente no ano de 2021 foram abatidos no Brasil 27,5 milhões de bovinos, 53 milhões de suínos e mais de 6 bilhões de frangos (fonte: Agência IBGE).
São números impressionantes e para qualquer pessoa que tenha um mínimo de sensibilidade o simples fato de imaginar a cena de um animal sendo abatido desperta emoções perturbadoras. O curioso é que a imaginação de um peixe vivo sendo retirado do mar aparentemente tem um potencial dramático muito menor.
Mas qual seria a solução? Humanizar o abate de animais?
Apesar da incoerência semântica da frase, isso, na medida do possível, já é feito. Novos métodos de abate foram pensados de forma a amenizar o sofrimento desses seres vivos que, desde o nascimento, já estão condenados a morrer prematuramente.
Como aspecto contraditório, há o consenso quase que unânime de que a fome e a desnutrição são mazelas que devem ser combatidas pela sociedade. Seria ético, portanto, condenar o consumo de carne animal em um mundo em que a carne ainda é, via de regra, uma fonte de proteína mais acessível que a proteína vegetal?
Aliás, a cadeia da proteína é outro ponto curioso. Pouca gente sabe, mas o soja, uma das fontes mais abundantes de proteína na natureza, tem 75% de sua produção mundial destinada ao consumo animal. Mas, por ser o principal produto para engorda dos rebanhos, acaba por ser indiretamente fortemente vinculada ao consumo de proteínas por seres humanos. E não há como ser diferente, pois o consumo de soja diretamente pelas pessoas, na quantidade necessária para suprir todas as necessidades de proteínas, tem uma série de contraindicações.
Em resumo, no contexto atual, parece ainda não ser o momento de se iniciar um amplo debate sobre questões éticas relacionadas ao consumo de carne animal. Por enquanto, os questionamentos a respeito ainda são pontos de reflexão para os quais cabem mais um posicionamento individual para formação de opinião própria.