Mártires da Floresta
É difícil dissociar as dimensões ambiental e social em lutas que há décadas vêm sendo travada na região amazônica.
Proteção da floresta e dos recursos naturais, proteção dos povos indígenas e respeito a suas tradições, melhores condições de vida para pessoas que trabalham na região e dela tiram o seu sustento, são causas que se misturam em um ativismo que combate a violência e a exploração econômica que avançam sobre a região desprovidas de qualquer ética socioambiental. Associações de caráter político e religioso também participam desse embate permanece e dramático que de longa data e que se intensificou a a partir da década de 1980.
Para quem vive em centros urbanos distantes da realidade que ocorre no Norte do país, em localidades onde até mesmo a presença do Estado e da grande mídia é deficiente, é difícil ter uma avaliação crítica sobre a real situação que lá ocorre e, até mesmo, formar opinião.
Dessa forma é sempre importante manter vivo o legado de verdadeiros heróis que perderam a vida na luta pela floresta e pelos povos que legitimamente a ela estão ligados.
Alguns casos que tiveram grande repercussão, inclusive internacional, serão citados a seguir. O que há em comum entre eles é que todas as vítimas já haviam sido ameaçadas e, mesmo assim, prosseguiram na luta por seus ideais.
A homenagem e o respeito se estende também a heróis anônimos, que com certeza não foram poucos.
CHICO MENDES: assassinado em 22 de dezembro de 1988 em Xapuri, no Acre
Lutou pela preservação da floresta e pelas comunidades de seringueiros, ameaçadas pelo avanço de grandes fazendeiros na região.
Deixou como legado a consolidação do conhecimento, fora da região amazônica, das causas que defendia, o que intensificou a conscientização e o surgimento de seguidores após sua morte. Deu nome ao Instituto chico Mendes da Conservação da Biodiversidade – ICMBIO, importante órgão governamental ambiental e de pesquisa, e à Reserva Extrativista Chico Mendes, importante Unidade de Conservação criada em 1990.
IRMÃ DOROTHY STANG: assassinada em 12 de fevereiro de 2005 em Anapu, no Pará.
Americana, erradicada no Brasil, lutava pela resolução de conflitos relacionados à posse e exploração da terra por grileiros e grandes fazendeiros. Defendia uma reforma agrária justa e mantinha diálogo com lideranças camponesas, políticas e religiosas. Assim como Chico Mendes, já havia recebido ameaças antes, mas não abandonou a luta.
Como legado, sua atuação chamou a atenção da comunidade internacional e manteve a mobilização e a conscientização em relação aos problemas ligados à violência e ocupação irregular de terras na exploração da floresta.
JOSÉ CLÁUDIO DA SILVA E MARIA DO ESPÍRITO SANTO: assassinados em 24 de maio de 2011 em Nova Ipixuna, no Pará.
José Cláudio e sua esposa, Maria, lutavam contra o desmatamento e a extração ilegal de madeira, resultados do avanço da pecuária na região.
Apesar de alertas de grupos ligados à proteção dos direitos humanos, que apontaram para o riso de morte dos dois ativistas, eles aparentemente tiveram proteção negada pelas autoridades no período que antecedeu o ato fatídico.
Eles foram membros do grupo ambientalista Conselho Nacional das Populações Extrativistas – CNS, e líderes do Projeto Agroextrativista Praialta-Piranheira em Nova Ipixuna, estado do Pará, além de terem participado de conferências e terem ecoado suas preocupações para a comunidade internacional.
BRUNO PEREIRA E DOM PHILLIPS: assassinados em 5 de junho de 2022 em Atalaia do Norte, no Amazonas.
Bruno era indigenista e servidor de carreira da Fundação Nacional do Índio – FUNAI.
Dom Phillips era um jornalista britânico erradicado no Brasil que em diversos artigos, como colaborador da imprensa internacional, reportou questões da floresta amazônica.
Ambos aparentavam estar preocupados com o avanço do garimpo e de outras atividades ilegais na região e a ameaça que isso representava para a floresta e para a comunidade indígena.
O crime, como todos os outros aqui relatados, teve repercussão internacional.
Veja mais sobre o legado de Chico Mendes em uma perspectiva mais recente neste vídeo da TVT.
Veja mais sobre o assassinato da Irmã Dorothy neste video da Consolata América, uma entidade de missionários.